segunda-feira, 21 de setembro de 2009


Saudade é contradição,é magia. Saudade é descompasso. Sentimento bom e angustiante.É querer a presença,sofrer de abstinência,dependência física. Contra-censo, coisa estranha...É ferida curada,mas sempre latejante. Cicatriz, quelóide antiga,mancha de limão que ficou na pele,em um verão passado qualquer. Tatuagem apagada.
Saudade é como gritar bem alto,no interior de uma caverna e não poder ouvir o eco. É parte que falta, é fome, é sede. É pedaço amputado, metade afastada. Agonia.
Saudade é não saber mais como ele está,se a barba continua espetando,se a gastrite ainda persiste,se ele continua odiando” Pepsi” e adorando “Coca-cola”.
Não saber se ela continua sem saber matemática,se ainda pretende estudar na Espanha,se continua prendendo os cabelos com liga meia e odiando secá-los ao vento.
Sentir saudades é congelar o tempo e guardar retratos e filmes feitos com os olhos e musicados com os ouvidos.
Saudade recente dói, mas quando antiga, se torna pura,serena, se faz lembrança. Se transforma no sentimento mais intrigante e gostoso que alguém pode sentir. Se entrelaça com a serenidade e descansa em paz. Mergulha nos sonhos e não mais em brasa. Eterniza, idealiza, empalha.
Ela guarda com ela só o que foi bom e descarta todo o resto.Sentimento doce e alegórico.
Se todos os relacionamentos terminassem em saudade...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Submissão autoritária

Me faz pequena, me cobre a alma, me envolve em teu calor.
Me alivia, me beija a boca,
Decifra meu humor.
Me despe com um olhar, descobre meus segredos.
Acaba com os meus medos que escapam entre meus dedos e protege-me da dor.
Me cala a boca agora, me deixa taquicárdica.
Me faz arder o peito de saudade e mais saudade. Saudosismo, solidão.
Me faz sentir teu cheiro, mesmo de muito longe.
Me leva como um monge, que se isola desse mundo e decifra a imensidão.
Me faz bonita, me salva a vida, me ama com fervor.
Me arrepia a alma.
Me decifra com a leveza veloz de um beija-flor.
Me carrega no colo, penteia meus cabelos,
Me arrepia os pêlos.
Me devora por inteiro.
Me permite ser amor.

terça-feira, 28 de abril de 2009


Não estamos mais protegidos da chuva. Não existe um encaixe posicional dos corpos, não existe boa vontade mútua e nem ritmicidade nos passos para que possamos dividir o guarda-chuva que agora é pequeno, quebrado e bem menos eficiente.
Não existe mais harmonia naquela canção. Naquele nosso dueto que antes era perfeito, sincrônico, muito afinado. As cordas do velho violão estão arrebentadas e nossas cordas vocais, cheias de calos. Talvez tenhamos desaprendido a melodia, quem sabe? Estranho é gostar tanto dessa cantoria, mesmo que desafinada. Estranho é ter certeza de que o público irá desaprovar e, ainda assim, ter a coragem de cantar. Expor o corpo e a alma às mais intimidantes vaias, e, ainda assim, cantar.
Estranho como os versos, esquecidos e entocados na gaveta, empoeirada e cheia de mofo ,ainda são capazes de me arrepiar os pelos...