quinta-feira, 13 de maio de 2010

Distúrbio Bipolar

Ora explode,ora cessa
Ora grita,ora reza
Ora chora,ora ri
Ora,forte,ora,fraco
Ora muito,ora pouco
Ora a Deus,ora Alá
Ora mal,ora bem
Ora amor,ora aquém
Ora Oxum,ora além
Ora tique,ora taque
Ora vai,ora vem.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Adeus,Mariá


Branca e pálida
Lindas coxas
Pôs-se a caminhar
Com suas trouxas.
Cheiro de jasmim
Virgem que da dó
Corre no jardim
Na garganta,um nó.
Mariá,meu bem
Mas porque fugir?
Tudo que quer,tem
Nao há de partir.
Mariá teimosa
Quer um amor
Corre toda prosa
Se abrindo em flor.
Explodindo em luz
Extasiada
Fez sinal da cruz
Chegou na calçada.
Sorrateiro,ali
O rapaz chegou
_ Eu pertenço a ti!
Mariá falou.
Adeus,Mariá
Vai com teu amor
Nada de voltar!
Teu pai acordou.
Adeus,Mariá.
Corre,Mariá.
Segue pra bem longe
Pra não voltar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009


Saudade é contradição,é magia. Saudade é descompasso. Sentimento bom e angustiante.É querer a presença,sofrer de abstinência,dependência física. Contra-censo, coisa estranha...É ferida curada,mas sempre latejante. Cicatriz, quelóide antiga,mancha de limão que ficou na pele,em um verão passado qualquer. Tatuagem apagada.
Saudade é como gritar bem alto,no interior de uma caverna e não poder ouvir o eco. É parte que falta, é fome, é sede. É pedaço amputado, metade afastada. Agonia.
Saudade é não saber mais como ele está,se a barba continua espetando,se a gastrite ainda persiste,se ele continua odiando” Pepsi” e adorando “Coca-cola”.
Não saber se ela continua sem saber matemática,se ainda pretende estudar na Espanha,se continua prendendo os cabelos com liga meia e odiando secá-los ao vento.
Sentir saudades é congelar o tempo e guardar retratos e filmes feitos com os olhos e musicados com os ouvidos.
Saudade recente dói, mas quando antiga, se torna pura,serena, se faz lembrança. Se transforma no sentimento mais intrigante e gostoso que alguém pode sentir. Se entrelaça com a serenidade e descansa em paz. Mergulha nos sonhos e não mais em brasa. Eterniza, idealiza, empalha.
Ela guarda com ela só o que foi bom e descarta todo o resto.Sentimento doce e alegórico.
Se todos os relacionamentos terminassem em saudade...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Submissão autoritária

Me faz pequena, me cobre a alma, me envolve em teu calor.
Me alivia, me beija a boca,
Decifra meu humor.
Me despe com um olhar, descobre meus segredos.
Acaba com os meus medos que escapam entre meus dedos e protege-me da dor.
Me cala a boca agora, me deixa taquicárdica.
Me faz arder o peito de saudade e mais saudade. Saudosismo, solidão.
Me faz sentir teu cheiro, mesmo de muito longe.
Me leva como um monge, que se isola desse mundo e decifra a imensidão.
Me faz bonita, me salva a vida, me ama com fervor.
Me arrepia a alma.
Me decifra com a leveza veloz de um beija-flor.
Me carrega no colo, penteia meus cabelos,
Me arrepia os pêlos.
Me devora por inteiro.
Me permite ser amor.

terça-feira, 28 de abril de 2009


Não estamos mais protegidos da chuva. Não existe um encaixe posicional dos corpos, não existe boa vontade mútua e nem ritmicidade nos passos para que possamos dividir o guarda-chuva que agora é pequeno, quebrado e bem menos eficiente.
Não existe mais harmonia naquela canção. Naquele nosso dueto que antes era perfeito, sincrônico, muito afinado. As cordas do velho violão estão arrebentadas e nossas cordas vocais, cheias de calos. Talvez tenhamos desaprendido a melodia, quem sabe? Estranho é gostar tanto dessa cantoria, mesmo que desafinada. Estranho é ter certeza de que o público irá desaprovar e, ainda assim, ter a coragem de cantar. Expor o corpo e a alma às mais intimidantes vaias, e, ainda assim, cantar.
Estranho como os versos, esquecidos e entocados na gaveta, empoeirada e cheia de mofo ,ainda são capazes de me arrepiar os pelos...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Regurgite.



Escrever é enfiar o dedo na garganta.Depois,claro,você peneira essa gosma,amolda-a,transforma.Já diria meu tão admirado,Caio Fernando.

Devemos nos alimentar de lembranças,dores,alegrias extremas,prazeres...Devemos nos alimentar de intensas e deliciosas paixões e de pequenas coisas que podem ser grandes a ponto de renderem um bom livro.Remexer o passado e se focar nas fantasias mais inconfessáveis,nas vontades mais homicidas,nas memórias mais bonitas,nos tesões e nos fracassos.Principalmente,devemos encher a pança de palavras.Ler,ler e ler...Ler até enjoarmos de entender e,então,desejarmos nos fazer entendidos.Até precisarmos gritar um discurso político.Devemos estar tão fartos a ponto de precisarmos vomitar uma vida inteira,para depois peneirar a gosma." Ler é alimento de quem escreve".

Escrever,pra mim,é como Yoga.Exatamente como Yoga...Aquilo que a gente sempre pretende fazer,para relaxar,mas sempre deixa de lado,por ter um compromisso,supostamente,mais importante ( é,eu planejei,um semestre todo,frequentar as aulas de Yoga da minha academia e não fui,simplesmente,nenhuma vez).

Tagarelar com as mãos é mais inteligente do que com a voz,porque só lêem os que sentem vontade.Ninguém é obrigado a ler.Lê-se por interesse,ao passo que ouve-se por obrigação.Não se pode fechar os ouvidos como se fecham os olhos.

É fato que é possível tapar com os dedos,os ouvidos,o que soa bastante infantil.Ou mesmo,correr,trancar as portas e enfiar a cabeça por debaixo de um travesseiro,desta vez,bastante adolescente.Mas não é fácil se recusar a ouvir,enquanto a ler,é corriqueiro.É isso,um dos motivos mais plausíveis para a existência da minha paixão por esse ato nobre,que,entre os animais,só nós,os homo sapiens sapiens,temos a sorte de possuir.
Escrever é uma reflexão,e reflexões profundas me tranquilizam,quase me entorpecem.Inunda meu sangue de endorfina.


quinta-feira, 10 de julho de 2008

Fumaça.


E rebolava, lentamente, com movimentos suaves e sensuais, lentos, deliciantes e, ligeiramente pélvicos, visualmente favorecidos pela penumbra provocante daquele quarto de carpete vermelho, espelhos no teto e cortinas rendadas, por onde entrava a luz serena da noite azul de lua cheia, lá fora. Ela cheirava à cravo e canela.
Silêncio. Silenciava sempre sobressaltada, a delicada e cheirosa residente da caixinha de madeira,cheia de buracos. Escapava por entre as frestas daquela prisão quente e, aparentemente sufocante,estranhamente embriagada, porém estonteante, sedutora. Sempre sensual.
Ela subia ligeira, em brasa e em seguida empalidecia e se deixava levar preguiçosa, por entre as frestas. Subia e descia, jogava os quadris de um lado para o outro, enovelando-se e perdendo-se nas próprias curvas. Belas curvas...
Simplesmente, então, parecia perder as forças e parar. Ela não conseguia mais se espremer por entre as frestas,e havia perdido um pouco do seu gingado.
Ouviu-se um estalar arranhado,na caixa de fósforos e uma chama se encontrou com mais um incenso de canela.Um ruído agudo se ouviu, proveniente das dobradiças da caixinha velha de incensos se abrindo e, em seguida, fechando-se... E novamente a fumaça, sexy e ardente,começou a rebolar pelo ar.






Por Marilia.